Expedição captura botos do rio Amazonas para ajudar a salvar esta icônica espécie rosa
Foram vários dias de observação até que pesquisadores e pescadores locais encontrassem a melhor maneira de capturar os botos que estavam estudando no maior lago da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Amanã, no interior da Amazônia brasileira.
O lago, parte desta unidade de conservação de 2,35 milhões de hectares (5,8 milhões de acres) no estado do Amazonas, é alimentado por pequenos igarapés de águas pretas, ou igarapés, que se ramificam do Rio Negro, misturados com as águas ricas em sedimentos águas bravas do Rio Japurá. É o lar de um robusto estoque de peixes e, portanto, de uma grande população de golfinhos. O que os pescadores aprenderam com as observações no início do estudo foi que os cetáceos entram e saem do lago por um canal estreito, então foi essa passagem que eles optaram por fechar com rede.
"Primeiro cercamos eles, colocamos uma rede na água e depois puxamos aos poucos até a beirada. Tiramos um a um da água para não se machucar", conta Antônio de Oliveira, pescador da Vila Alencar na vizinha Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá. “Nós os levantamos para a terra e os colocamos em uma maca. Em seguida, colocamos uma fita em volta da boca para que não pudessem morder e os levamos para as balanças onde os pesquisadores anotaram seus dados”.
Mas não foi a pesca predatória, um dos fatores que colocou o boto-vermelho da Amazônia (Inia geoffrensis) em risco de extinção, segundo o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade e a IUCN, a autoridade global de conservação da vida selvagem. Os pescadores são moradores da reserva Amanã e estiveram lá para ajudar em um amplo estudo sobre a saúde e o comportamento dessa espécie de água doce, comumente chamada de boto-cor-de-rosa em português.
A expedição a Amanã, em dezembro passado, foi organizada pelo Instituto Mamirauá de Desenvolvimento Sustentável (IDSM) e WWF-Brasil. Ao longo de oito dias, a equipe capturou 20 botos e coletou dados para entender melhor seu estado de saúde. Eles instalaram transmissores de rádio em cinco dos animais para monitorar seus movimentos pelas águas amazônicas, com o objetivo de preencher lacunas científicas, detalhadas em um estudo de 2022.
Cada golfinho capturado durante a pesquisa foi puxado para terra e colocado em uma grande maca. Com até 2,5 metros de comprimento e pesando até 200 quilos, os animais foram levados para uma tenda onde os cientistas se prepararam para fazer uma série de testes, tirar medidas e fazer exames — tudo no espaço de cerca de 20 minutos.
“Trabalhamos o mais rápido possível para que o animal não ficasse estressado por muito tempo”, conta a coordenadora da expedição, Miriam Marmontel, que comanda o grupo de pesquisa de mamíferos aquáticos amazônicos do Instituto Mamirauá. "Depois que eles saíram da água, estávamos totalmente preparados. O animal foi mantido parado e constantemente hidratado para que a pele não ressecasse. Toda a equipe trabalhou ao mesmo tempo."
Enquanto os pescadores imobilizavam os golfinhos, os pesquisadores coletavam sangue para exames, incluindo hematologia, bioquímica, níveis de mercúrio e selênio, e testes de virologia para detectar doenças como leptospirose, toxoplasmose e brucelose. Outros coletaram zaragatoas nasais, genitais e anais, bem como verificaram quaisquer lesões aparentes. Em seguida, eles mediram o comprimento, as circunferências e o peso do animal. As taxas de respiração e as temperaturas corporais – tiradas do rosto, nadadeiras e barbatana dorsal – foram monitoradas durante todo o exame para detectar qualquer anormalidade. Antes de soltar alguns dos golfinhos, a equipe instalou um rádio transmissor semelhante a um prendedor de roupa na barbatana dorsal do animal.
Os botos cor-de-rosa habitam rios amazônicos em sete países: Brasil, Bolívia, Colômbia, Peru, Venezuela, Equador e Guiana. No Brasil, são encontrados nas bacias dos rios Amazonas, Branco, Negro, Madeira, Tapajós e Xingu. Como todos os grandes mamíferos aquáticos, eles são os primeiros a serem afetados por problemas ambientais, diz Marmontel. Sinais de fraqueza ou doença nos golfinhos podem ser alertas aos humanos de risco de zoonoses, por exemplo.